terça-feira, 23 de outubro de 2007

discurso sobre o colonialismo

Era preciso estudar primeiro o modo como a colonização trabalha para descivilizar o colonizador, para o embrutecer no verdadeiro sentido da palavra, para o degradar, para lhe acordar os instintos adormecidos, para o levar à cobiça, à violência, ao ódio racial, ao relativismo moral; era preciso mostrar que, cada vez que se decapita no Vietname, ou se vaza um olho, cada vez que se viola uma rapariguinha, que cada vez que se suplicia um Malgache, e na França é aceite, há uma aquisição por parte da sociedade de um peso morto, há uma regressão universal que se opera, há uma gangrena que se instala, há um foco de infecção que se alastra. Era preciso mostrar que, depois de violados todos estes tratados, depois de propagadas todas estas mentiras, depois de toleradas todas estas expedições punitivas, depois de acorrentados e interrogados todos estes prisioneiros, depois de torturados todos estes patriotas, depois de encorajado este orgulho racial e espalhada esta jactância, fica instalado o veneno nas veias da Europa e o progresso lento, mas seguro, do enselvajamento do continente. (...)

Aimé Césaire, 1950

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