Mugabe andava farto e não aguentou mais: no dia 12 de Setembro de 2003, faz hoje precisamente quatro anos, mandou fechar o primeiro diário independente do Zimbabwe, o Daily News. Incomodava-o, dizia mal dele, dava-lhe dores de cabeça, não podia ser. Além do mais, havia uma lei, devidamente assinada pelo ministro da Informação, que dizia que reportagens ou artigos considerados contrários aos interesses nacionais davam multa e até penas de prisão. Jornais e jornalistas tinham que ser registados e licenciados à sombra da nova lei, não se desse o caso de serem mal intencionados ou terem outra doença qualquer. O Daily News resistiu. Tinha a doença, claro. Criado em 1999, houve quem o quisesse desfazer logo em 2000 (um atentado à bomba) e em 2001 (com a destruição das impressoras). Mas faltava a lei e só esta seria eficaz. Assim em 2003, para gáudio de Mugabe e seus servidores, o jornal foi proibido. Calaram-no. A guerra seguiu depois pelos tribunais, onde ainda se desenrola, surda e praticamente inútil.
A verdade é que quase todos nós, excluindo talvez o próprio e lacaios mais chegados, andamos fartos de Mugabe e não aguentamos mais. Infelizmente, por mais que se busque, não encontramos qualquer lei para fazer o que ele fez ao Daily News. Mas podemos, isso sim, fazer o que ele não gosta: falar, protestar, lembrar as injustiças. É isso mesmo que propõe a Fundação Peter Weiss for Arts and Politics, no âmbito do Festival Internacional de Literatura de Berlim.
Nuno Pacheco, Público, 12.09.2007
sexta-feira, 14 de setembro de 2007
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