segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O BOOMERANG DO DITADOR - Por Luiz Araújo

Quando o medo amordaça e paralisa bloqueando o verbo e o gesto ao cidadão, às pessoas
conscientes e honradas do povo só restam três saídas: o da colaboração com a ditadura
pela via da traição passiva ou activa, o suicídio ou a resistência. Qualquer dessas três saídas
é forçada mas só a resistência é a saída para a liberdade. Jamais ela será conquistada por via
de “boas” parcerias com o ditador.
No discurso de abertura do VI Congresso do MPLA (10.12.09) José Eduardo dos Santos
dividiu a sociedade civil em boas e más organizações e apontou a necessidade de
regulamentação que permita obrigar cada um a ocupar o seu espaço “para que não haja
confusão”.
O PR JES afirmou que, o MPLA, "exprime a sua satisfação pelo surgimento de muitas
organizações não governamentais (ong’s) angolanas e fundações e manifesta o
seu reconhecimento pelo auxílio que prestam ao Estado e à sociedade na resolução de
muitos problemas das populações carenciadas e das comunidades rurais". Em seguida,
declarou que o seu partido, MPLA: "Entretanto exprime também a sua discordância com o
facto de algumas ONG’s estarem a realizar tarefas e missões que competem aos
partidos políticos". Completou depois essa divisão dizendo que: "Pretendemos
uma sociedade organizada e ordenada, onde cada um ocupe o seu espaço e
intervenha nos marcos da lei. Temos, por isso, que promover o aperfeiçoamento dos
nossos regulamentos para que não haja confusão"
A essência da agenda do PR JES para a sociedade civil fica finalmente exposta. Falta só
que a complete, saindo da acusação vaga, esclarecendo-nos sobre quais são as organizações
que realizam tarefas da competência exclusiva dos partidos. De entre tantas outras, serão
à FESA, o Fundo Lwiniy, o Movimento Nacional Expontâneo, a AJAPRAZ, a ADRA ou
a IBIS, a DW e a SOS Habitat? Quais são? Que ONGs, efectivamente, são partidárias
declaradas ou não mas cujo partidarismo é ostentado e ou passível de ser comprovado?
Quais foram as que, inclusive, vimos nas emissões da TPA a distribuir ofertas com
bandeirinhas e tishirts dum partido?
Outras organizações e actores, mais subtis, não têm esse tipo de desempenho, mas não
significa que não são absolutamente apartidárias, objectivamente, também, vêm agindo
pelo regime de MPLA/JES. Inclusive implementando acções no quadro do programa do
Governo do MPLA/JES, o PAANE (como é o caso das “Conferências Nacionais da
Sociedade Civil”) que tem como Ordenador Nacional o Ministro do Plano, um subordinado
de JES, Presindete do MPLA. Isso não é significativo?
Além de outros ataques com que fomos sendo “mimados”, lembrei-me imediatamente do
ataque, em 2007, feito pelo Sr. Walapi Kalenga, quadro do MINARES contra organizações
concretas: (i) a SOS Habitat, a AJPD, a Mão Livres, a Open Society e algumas outras
ONGs internacionais. Ataque caracterizado por ser (a) feito por um quadro, chefe
subalterno dum ministério no entanto (b) com o apoio dos serviços de pesos pesados dos
principais órgãos de comunicação do Estado, (c) sem permitir respostas às associações
visadas e que (d) na imprensa teve o reforço de sopranos de sempre do regime do MPLA.
Pela combinação de elementos e aspectos que lhe deram forma, esse ataque deve ser hoje
entendido em combinação com o recente pronunciamento de JES. Ambos, no mínimo,
têm exactamente o mesmo sentido, fins declarados e ou óbvios.
Não nos espanta o uso do adjectivo CONFUSÃO pelo PR JES. Ele é o principal promotor
e responsável pelas causas da grande confusão em que o Estado está a ser cada vez mais
metido para geração de rendimentos particulares ilícitos. Está a por lume no país mas não
quer que as chamas o queimem. Por isso necessita de mecanismos (regulamentação) para
aplicar as forças que já tem na contenção do fogo do seu incêndio. Nos dias que correm
está é a, única, confusão principal que está a ser feita em Angola. A confusão real.
Violações dos direitos humanos são cometidas e aos seus agentes é garantida uma total
impunidade. É essa a confusão que o regime do MPLA/JES está a fazer. A justiça tem sido
falha para os mais pobres e excluídos da nossa sociedade. A justiça está sequestrada. Os
mais desfavorecidos da nossa sociedade têm sido tantas vezes tratados como não cidadãos
por homens portando símbolos e armas do Estado com que atacam o povo para, a mando
de quem governa, o esbulharem dos seus bens e expulsa-lo dos seus sítios. São dessa
natureza os abusos que são a causa principal da acção política das organizações da
sociedade civil defensoras dos direitos humanos. Isto é confusão? Isto não é confusão.
Essa acção mesmo que seja feita com a parceria de partido da oposição e ou como acções
de oposição política não são actos de confusionistas. É exactamente o contrário. É a
acção anti confusão de Estado conduzido por JES.
Ora essa confusão da responsabilidade do Estado/MPLA/JES é que é a confusão real à luz
da lei,. Uma perturbação grave da ordem do Estado de direito democrático que, para
espanto de todos nós, nem carece de nova regulamentação para ser sanada Ela, a lei,
existe, carece é de ser aplicada com o rigor de Estado em que o Sr. PR JES tem sido falho.
Porque será?!
Campeiam no país dirigentes, agentes do Estado e seus clientes que, efectivamente, vêm
protagonizando uma grave confusão na República. Esta componente da confusão está a
socavar a paz e pode, a prazo, ter consequências calamitosas para toda a nação.
O PR JES, ao dividir-nos numa "boa" e "má" sociedade civil, reforça e radicaliza uma
prática com essa tendência separatista que não é novidade no político angolano em geral e
em especial no meio das organizações da sociedade civil, onde há muito intervêm actores
que também promovem a separação entre “boas” e “más” organizações. Uma divisão que
apesar de não dita e mesmo que quando discursada em sentido inverso a isso, vem sendo
efectivada e que, inclusive, tem os seus promotores, financiadores e dinamizadores dum
programa Governamental (o PAANE) com que, além de outras metas, objectivamente, se
tem visado domesticar a sociedade civil.
Agenda essa implementada por actores e organizações mais simpáticas ao regime, na sua
maioria com raízes históricas nele e ou que não lhe manifestam o seu descontentamento e
muito menos lhe oferecem resistência. Apesar de cada associação ser pertença exclusiva
dos seus constituintes, à partida, os agentes desse programa qualificam globalmente a
diversidade de organizações existentes como sendo “a nossa” sociedade civil, portanto de
todos. Inclusive arvorando-se o direito de interferirem na existência de todas. Como se
trata-se duma "obrigação democrática participativa" de toda as organizações da sociedade
civil, têm insistido no convencimento à adesão de todas as organizações da sociedade civil
a esse programa do Governo "para os Actores Não Estatais", o PAANE.
Os agentes desse programa primeiro postularam a representação única da sociedade civil.
Falharam. De nenhum país democrático de facto nos chegou um só exemplo duma agenda
semelhante. Essa agenda, no caso angolano, naturalmente, chocou com resistências
legitimas e impedimentos legais. A representação global da sociedade civil é inviável,
impossível. Caso qualquer regulamentação a imponha isso consubstanciará o retorno a
uma situação inaceitável que nos reduzirá ao modelo das organizações sociais de massas da
primeira fase ditatorial do MPLA/JES, a do partido único de triste memória.
Quem acredita que nas circunstancias actuais é possível a realização duma agenda que
promova a acção cidadã livre e o desenvolvimento, sem distinções, entre “más” e “boas”
organizações da sociedade civil, que nos foi arremessada pelo programa PAANE. Não
podemos esquecer que é o programa dum Governo violador de direitos humanos,
implementado em parceria com uma Delegação da Comissão Europeia, cúmplice por
omissão para com os autores de violações dos direitos humanos cometidas em Angola. É o
programa dum governo assim que, (recorrendo à terminologia do PR JES) nos vai permitir
sanar as confusões que o mesmo governo engendra com essas violações e com a
impunidade com que as acoberta?
O PAANE, seus agentes e os actores politicamente conscientes e ou incautos que
arregimentou, representam efectivamente o papel do maluco que tenta encher com água
um reservatório roto, sem primeiro fechar os rombos por onde a água se esvai
eternamente. Essa é metáfora adequada ao PAANE nos moldes em que actualmente está
concebido e com o enquadramento institucional que tem. A CE tem alternativa a isso mas
não ousa, os interesses económicos falam mais forte. Nos dias que correm esse programa
orçamentado em 3.000.000 de € doados pela CE, é um programa que tem um membro do
Governo como Ordenador Nacional, para todos os efeitos um subordinado do PR JES.
O PR JES, recentemente, colocou o seu partido e o país numa onda de ”tolerância zero à
corrupção”. Em seguida, sobejamente, na imprensa e por por via de comentários On line
foram manifestadas muitas, sérias e consideráveis duvidas (muitas das quais faço minhas)
sobre a viabilidade de mais essa promessa do PR JES, Uma confusão “contra a confusão”,
assim o entendo e exprimo usando o termo do PR JES.
Agora, escorado no pronunciamento com que, de forma vaga, acusou organizações da
sociedade civil e orientou para elaboração de futura regulamentação que remeta cada um
ao seu espaço (como já vem fazendo com os "gentios da fazenda Angola” em termos de
espaço de residência) tenho razões para considerar que, de forma mais efectiva e eficiente,
mais rapidamente aplicará à sociedade civil uma intolerância mais absoluta do que a
tolerância zero com que ameaçou os corruptos. Inclusive, em minha opinião, certamente,
vai ter o apoio de muitos desses corruptos na implementação da sua política de
intolerância para com ás "más" organizações da sociedade civil de Angola.
Pelo andar da carruagem da ditadura que, assim, se aprofunda, o que cada vez mais é uma
necessidade nacional com caracter de urgência, é uma tolerância zero do povo à confusão
de Estado de José Eduardo dos Santos.
O PR JES chegou a um momento em que os ataques aos efeitos da confusão com que
perturba a ordem do Estado de direito democrático instituído se voltam contra ele mesmo.
É o boomerang da ditadura.
EXIJO DIGNIDADE
Este texto, não reflecte a posição da associação a que pertenço e é exclusivamente da
minha responsabilidade,

O BOOMERANG DO DITADOR - Por Luiz Araújo

Quando o medo amordaça e paralisa bloqueando o verbo e o gesto ao cidadão, às pessoas
conscientes e honradas do povo só restam três saídas: o da colaboração com a ditadura
pela via da traição passiva ou activa, o suicídio ou a resistência. Qualquer dessas três saídas
é forçada mas só a resistência é a saída para a liberdade. Jamais ela será conquistada por via
de “boas” parcerias com o ditador.
No discurso de abertura do VI Congresso do MPLA (10.12.09) José Eduardo dos Santos
dividiu a sociedade civil em boas e más organizações e apontou a necessidade de
regulamentação que permita obrigar cada um a ocupar o seu espaço “para que não haja
confusão”.
O PR JES afirmou que, o MPLA, "exprime a sua satisfação pelo surgimento de muitas
organizações não governamentais (ong’s) angolanas e fundações e manifesta o
seu reconhecimento pelo auxílio que prestam ao Estado e à sociedade na resolução de
muitos problemas das populações carenciadas e das comunidades rurais". Em seguida,
declarou que o seu partido, MPLA: "Entretanto exprime também a sua discordância com o
facto de algumas ONG’s estarem a realizar tarefas e missões que competem aos
partidos políticos". Completou depois essa divisão dizendo que: "Pretendemos
uma sociedade organizada e ordenada, onde cada um ocupe o seu espaço e
intervenha nos marcos da lei. Temos, por isso, que promover o aperfeiçoamento dos
nossos regulamentos para que não haja confusão"
A essência da agenda do PR JES para a sociedade civil fica finalmente exposta. Falta só
que a complete, saindo da acusação vaga, esclarecendo-nos sobre quais são as organizações
que realizam tarefas da competência exclusiva dos partidos. De entre tantas outras, serão
à FESA, o Fundo Lwiniy, o Movimento Nacional Expontâneo, a AJAPRAZ, a ADRA ou
a IBIS, a DW e a SOS Habitat? Quais são? Que ONGs, efectivamente, são partidárias
declaradas ou não mas cujo partidarismo é ostentado e ou passível de ser comprovado?
Quais foram as que, inclusive, vimos nas emissões da TPA a distribuir ofertas com
bandeirinhas e tishirts dum partido?
Outras organizações e actores, mais subtis, não têm esse tipo de desempenho, mas não
significa que não são absolutamente apartidárias, objectivamente, também, vêm agindo
pelo regime de MPLA/JES. Inclusive implementando acções no quadro do programa do
Governo do MPLA/JES, o PAANE (como é o caso das “Conferências Nacionais da
Sociedade Civil”) que tem como Ordenador Nacional o Ministro do Plano, um subordinado
de JES, Presindete do MPLA. Isso não é significativo?
Além de outros ataques com que fomos sendo “mimados”, lembrei-me imediatamente do
ataque, em 2007, feito pelo Sr. Walapi Kalenga, quadro do MINARES contra organizações
concretas: (i) a SOS Habitat, a AJPD, a Mão Livres, a Open Society e algumas outras
ONGs internacionais. Ataque caracterizado por ser (a) feito por um quadro, chefe
subalterno dum ministério no entanto (b) com o apoio dos serviços de pesos pesados dos
principais órgãos de comunicação do Estado, (c) sem permitir respostas às associações
visadas e que (d) na imprensa teve o reforço de sopranos de sempre do regime do MPLA.
Pela combinação de elementos e aspectos que lhe deram forma, esse ataque deve ser hoje
entendido em combinação com o recente pronunciamento de JES. Ambos, no mínimo,
têm exactamente o mesmo sentido, fins declarados e ou óbvios.
Não nos espanta o uso do adjectivo CONFUSÃO pelo PR JES. Ele é o principal promotor
e responsável pelas causas da grande confusão em que o Estado está a ser cada vez mais
metido para geração de rendimentos particulares ilícitos. Está a por lume no país mas não
quer que as chamas o queimem. Por isso necessita de mecanismos (regulamentação) para
aplicar as forças que já tem na contenção do fogo do seu incêndio. Nos dias que correm
está é a, única, confusão principal que está a ser feita em Angola. A confusão real.
Violações dos direitos humanos são cometidas e aos seus agentes é garantida uma total
impunidade. É essa a confusão que o regime do MPLA/JES está a fazer. A justiça tem sido
falha para os mais pobres e excluídos da nossa sociedade. A justiça está sequestrada. Os
mais desfavorecidos da nossa sociedade têm sido tantas vezes tratados como não cidadãos
por homens portando símbolos e armas do Estado com que atacam o povo para, a mando
de quem governa, o esbulharem dos seus bens e expulsa-lo dos seus sítios. São dessa
natureza os abusos que são a causa principal da acção política das organizações da
sociedade civil defensoras dos direitos humanos. Isto é confusão? Isto não é confusão.
Essa acção mesmo que seja feita com a parceria de partido da oposição e ou como acções
de oposição política não são actos de confusionistas. É exactamente o contrário. É a
acção anti confusão de Estado conduzido por JES.
Ora essa confusão da responsabilidade do Estado/MPLA/JES é que é a confusão real à luz
da lei,. Uma perturbação grave da ordem do Estado de direito democrático que, para
espanto de todos nós, nem carece de nova regulamentação para ser sanada Ela, a lei,
existe, carece é de ser aplicada com o rigor de Estado em que o Sr. PR JES tem sido falho.
Porque será?!
Campeiam no país dirigentes, agentes do Estado e seus clientes que, efectivamente, vêm
protagonizando uma grave confusão na República. Esta componente da confusão está a
socavar a paz e pode, a prazo, ter consequências calamitosas para toda a nação.
O PR JES, ao dividir-nos numa "boa" e "má" sociedade civil, reforça e radicaliza uma
prática com essa tendência separatista que não é novidade no político angolano em geral e
em especial no meio das organizações da sociedade civil, onde há muito intervêm actores
que também promovem a separação entre “boas” e “más” organizações. Uma divisão que
apesar de não dita e mesmo que quando discursada em sentido inverso a isso, vem sendo
efectivada e que, inclusive, tem os seus promotores, financiadores e dinamizadores dum
programa Governamental (o PAANE) com que, além de outras metas, objectivamente, se
tem visado domesticar a sociedade civil.
Agenda essa implementada por actores e organizações mais simpáticas ao regime, na sua
maioria com raízes históricas nele e ou que não lhe manifestam o seu descontentamento e
muito menos lhe oferecem resistência. Apesar de cada associação ser pertença exclusiva
dos seus constituintes, à partida, os agentes desse programa qualificam globalmente a
diversidade de organizações existentes como sendo “a nossa” sociedade civil, portanto de
todos. Inclusive arvorando-se o direito de interferirem na existência de todas. Como se
trata-se duma "obrigação democrática participativa" de toda as organizações da sociedade
civil, têm insistido no convencimento à adesão de todas as organizações da sociedade civil
a esse programa do Governo "para os Actores Não Estatais", o PAANE.
Os agentes desse programa primeiro postularam a representação única da sociedade civil.
Falharam. De nenhum país democrático de facto nos chegou um só exemplo duma agenda
semelhante. Essa agenda, no caso angolano, naturalmente, chocou com resistências
legitimas e impedimentos legais. A representação global da sociedade civil é inviável,
impossível. Caso qualquer regulamentação a imponha isso consubstanciará o retorno a
uma situação inaceitável que nos reduzirá ao modelo das organizações sociais de massas da
primeira fase ditatorial do MPLA/JES, a do partido único de triste memória.
Quem acredita que nas circunstancias actuais é possível a realização duma agenda que
promova a acção cidadã livre e o desenvolvimento, sem distinções, entre “más” e “boas”
organizações da sociedade civil, que nos foi arremessada pelo programa PAANE. Não
podemos esquecer que é o programa dum Governo violador de direitos humanos,
implementado em parceria com uma Delegação da Comissão Europeia, cúmplice por
omissão para com os autores de violações dos direitos humanos cometidas em Angola. É o
programa dum governo assim que, (recorrendo à terminologia do PR JES) nos vai permitir
sanar as confusões que o mesmo governo engendra com essas violações e com a
impunidade com que as acoberta?
O PAANE, seus agentes e os actores politicamente conscientes e ou incautos que
arregimentou, representam efectivamente o papel do maluco que tenta encher com água
um reservatório roto, sem primeiro fechar os rombos por onde a água se esvai
eternamente. Essa é metáfora adequada ao PAANE nos moldes em que actualmente está
concebido e com o enquadramento institucional que tem. A CE tem alternativa a isso mas
não ousa, os interesses económicos falam mais forte. Nos dias que correm esse programa
orçamentado em 3.000.000 de € doados pela CE, é um programa que tem um membro do
Governo como Ordenador Nacional, para todos os efeitos um subordinado do PR JES.
O PR JES, recentemente, colocou o seu partido e o país numa onda de ”tolerância zero à
corrupção”. Em seguida, sobejamente, na imprensa e por por via de comentários On line
foram manifestadas muitas, sérias e consideráveis duvidas (muitas das quais faço minhas)
sobre a viabilidade de mais essa promessa do PR JES, Uma confusão “contra a confusão”,
assim o entendo e exprimo usando o termo do PR JES.
Agora, escorado no pronunciamento com que, de forma vaga, acusou organizações da
sociedade civil e orientou para elaboração de futura regulamentação que remeta cada um
ao seu espaço (como já vem fazendo com os "gentios da fazenda Angola” em termos de
espaço de residência) tenho razões para considerar que, de forma mais efectiva e eficiente,
mais rapidamente aplicará à sociedade civil uma intolerância mais absoluta do que a
tolerância zero com que ameaçou os corruptos. Inclusive, em minha opinião, certamente,
vai ter o apoio de muitos desses corruptos na implementação da sua política de
intolerância para com ás "más" organizações da sociedade civil de Angola.
Pelo andar da carruagem da ditadura que, assim, se aprofunda, o que cada vez mais é uma
necessidade nacional com caracter de urgência, é uma tolerância zero do povo à confusão
de Estado de José Eduardo dos Santos.
O PR JES chegou a um momento em que os ataques aos efeitos da confusão com que
perturba a ordem do Estado de direito democrático instituído se voltam contra ele mesmo.
É o boomerang da ditadura.
EXIJO DIGNIDADE
Este texto, não reflecte a posição da associação a que pertenço e é exclusivamente da
minha responsabilidade,

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

TENHAM VERGONHA "SENHORES" DA EUROPA E DO MUNDO EXIGIMOS QUE DEIXEM DE SUSTENTAR QUAISQUER OPRESSÕES EM ÁFRICA E NO MUNDO!

"Em greve de fome há 24 dias num parque de estacionamento do aeroporto de Lanzarote, Aminetu Haidar continua a morrer aos poucos. O governo espanhol não se limita ao silêncio e comporta-se como autêntico delegado diligente da ditadura marroquina. Do resto da Europa, governo português incluído (o partido que o sustenta nem a favor de um voto de solidariedade consegui estar), o silêncio cobarde". In Blogue - Arrastão (embaixo da mensagem)
_____________________________________________________________________
Leiam a citação de Montesquieu embaixo e nunca se esqueçam do que afirma.
_____________________________________________________________________________________________________________

"Se soubesse de algo que fosse útil à minha família e não à minha pátria, procuraria esquecê-lo. Se soubesse de algo que fosse útil à minha pátria e prejudicial à Europa, ou então útil à Europa e prejudicial ao género humano, eu consideraria isso um crime”.
Montesquieu
_____________________________________________________________________________________________________________

Enquanto activista do direitos humanos não posso deixar de me juntar às vozes que neste momento se associam a Aminetu Haidar quando se sacrifica pela sua dignidade e do povo do Sahara Ocidental. Não posso neste momento deixar de mais uma vez, denunciar a atitude cúmplice da União Europeia com várias situações de subjugação e ou de violação impune dos direitos humanos em África.

A cumplicidade da Comunidade Internacional, em particular a da União Europeia e dos seus Estados Membros, fica bem exemplificada com o caso do Sahara Ocidental, agora que a activista dos direitos humanos Aminetu Haidar está a arriscar a sua própria vida em nome da sua dignidade e do seu povo oprimido.

É esse o valor com que se tem que pagar para que aqueles que se colocam perante o mundo como campeões dos direitos humanos assumam as suas obrigações. O que teremos que fazer para que saiam da trincheira do cinismo com que gangrenam relações internacionais em que colocam acima dos valores humanistas (que postulam e instituíram como essenciais à suas relações internacionais) interesses económicos com que se sustentam e em nome dos quais não contestam ditaduras e diferentes situações de opressão vividas por vários povos africanos, sejam eles povos de Estados independentes ou não.

Esse cinismo, além da cumplicidade com que protege a subjugação do povo do Sahara Oidental, também vem sustentando outras ditaduras africanas que com absoluta impunidade violam direitos humanos como no caso de Angola.

O sacrifício voluntário e pacifista de Aminetu Haidar ao dar visibilidade à subjugação do seu povo e à cumplicidade internacional que a sustenta, constitui-se numa acção por todas as vitimas dessa tirania e também da cumplicidade internacional que vem sustentando regime de opressão no nosso continente.

Todos os que conduzem Estados, Governos e instituições supra nacionais, como a UE e CE, sustentando ainda que só pela omissão a impunidade de violadores dos direitos humanos, devem perceber que são co-produtores do esgotamento das possibilidades de sucesso dos movimentos pacifistas que trabalham pela garantia do respeito pelos direitos humanos. Devem perceber que estão a contribuir para a eliminação das possibilidades de acção pacifista das vitimas dessas ditaduras. Estão a reduzir as nossas possibilidades de acção e a obrigar-nos assim à legitima defesa com o recurso ao uso da força. Solução que não temos promovido apesar de tantas vezes termos sido reprimidos com violência e de inclusive, nalguns casos, enquanto defensores dos direitos humanos, termos sido alvos de atentados contra as nossas vidas. Violência que, em consequência, poderá ser a resposta a que , obrigados a isso pelas ditaduras, os africanos oprimidos recorrerão nalgum momento da afronta a que são submetidos. Submissão, paradoxalmente, agora também concretizada por regimes reconhecidos como sendo democracias pela Comunidade Internacional em geral e em particular pela UE.

Aminetu Haidar, desejo que sobrevivas e sejas uma vencedora mas caso o teu sacrifício te seja fatal nunca o será em vão porque, a prazo, as causas justas são sempre vencedoras.
Havemos de reproduzir o teu exemplo de combatente pela liberdade e pela dignidade humana até que todas as nossas aspirações sejam concretizadas.
Aminetu Haidar, colocas-te entre as filhas e filhos mais dignos de África.
Obrigada Aminetu Haidar pelo exemplo de dignidade que nos dás.

EXIGE DIGNIDADE

Luiz Araújo
Defensor dos Direitos Humanos
Angola

Solicito a mais ampla divulgação desta mensagem e o seu envio em especial para entidades da União Europeia e dos seus estados membros.

_____________________________________________________________________
---------- Forwarded message ----------
From: Arrastão
Date: 2009/12/9
Subject: Arrastão
To: maquinaza@gmail.com


Arrastão

O silêncio dos cobardes
Posted: 08 Dec 2009 11:07 PM PST


Em greve de fome há 24 dias num parque de estacionamento do aeroporto de Lanzarote, Aminetu Haidar continua a morrer aos poucos. O governo espanhol não se limita ao silêncio e comporta-se como autêntico delegado diligente da ditadura marroquina. Do resto da Europa, governo português incluído (o partido que o sustenta nem a favor de um voto de solidariedade consegui estar), o silêncio cobarde. O Sara luta pelo mesmo que Timor lutou. A história é aliás quase igual. Mas os negócios falam mais alto. Aminetu Haidar, prémio Sakarov entre tantos outros, pode morrer a qualquer momento. Em solo europeu. Perante o silêncio cobarde de todos. Apenas porque não deixam regressar ao seu país, à sua casa, aos seus filhos. Apenas porque os mesmos que a elogiam e a premeiam são incapazes de aprender alguma coisa com o seu exemplo: o da dignidade e da coragem.

Quando Marrocos fez saber que ela só poderá regressar se pedir desculpas ao rei Mohammed VI, o seu filho mais novo, de 13 anos, disse: “A minha mãe nunca vai voltar a casa porque nunca vai pedir perdão ao rei.” Não por frieza, mas pela coragem de uma combatente, Aminetu mediu todas as palavras: “podem viver sem mãe, mas não sem dignidade”. Por mim, ao ver esta mulher firme e de paz morrer na Europa que se diz da liberdade sinto uma vergonha sem fim. E um desprezo enorme pelos cobardes que nos governam. Tivessem os nossos líderes um pingo do que tem Aminetu e estariamos muito melhor servidos.



quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

ANGOLA: OS VIOLADORES DOS DIREITOS HUMANOS TÊM CUMPLICIDADE DA COMISSÃO EUROPEIA

E-mail, aberto, enviado pelo activista Luiz Araújo da SOS Habitat aos Euro Deputados por ocasião da primeira Assembleia Paritária ACPE-UE realizada em Luanda no passado dia 1 de Dezembro de 2009.


Exmos Euro Deputados


Mr Luca JAHIER Ms Michèle RIVASI
President of the ACP-EU Follow-up Committee Vice-President of the ACP-EU Joint Parliamentary Assembly
of the European Economic and Social Committee with responsibility for relations with civil society


Tratar o papel dos actores não estatais como nos sugerem, já e só, sem mais considerações sobre a pratica anterior, pelo menos no concernente à defesa dos direitos humanos, o campo em que a associação a que pertenço trabalha, será neste momento um salto em frente deixando para traz assuntos por resolver e que, primeiro, devem ser tratados com o rigor e a urgência que a norma e os postulados dos acordos ACP-UE impõem.

Esclarecimento prévio necessário:

a) O que fazemos:
apesar de também nos preocuparmos e tratarmos de direitos políticos, (porque inerentes aos direitos económicos sociais e culturais), especialmente dedicamos-nos à acção de defesa dos direitos humanos relacionados com a habitação e posse da terra.

b) Aspecto relevante do contexto:
vivemos em Angola um momento marcado pela impunidade com que vêm sendo agraciados violadores dos direitos humanos e que, significativamente, tem merecido o silêncio cúmplice por omissão da Delegação da Comissão Europeia em Angola e da maioria das representação dos Estados membros da UE no nosso país, assim como daqueles que conduzem a Comissão Europeia em Bruxelas. Esses aspectos têm sido determinantes do nosso papel e da atitude que vimos assumindo face às instituições angolanas e europeias.

b.1) De entre outras violações, temos documentado e reportado desalojamentos forçados, em massa, alguns realizados sem notificação prévia nem concessão de habitação alternativa adequada conforme determina a norma, motivados pela apropriação com custos mínimos de terras pelo Estado e por particulares.

Dezenas de milhares de famílias angolanas têm sido violentamente expulsas dos seus lugares habituais de residência e ou de trabalho. Esses actos vêm sendo realizados inclusive com o uso abusivo dos símbolos, dos homens e das armas do estado contra o povo, sem que as vitimas dessas actos consigam aceder à justiça que lhes tem sido sistematicamente falha. Isto não é um juízo mas só a referência resumida a factos perante os quais, todos nós, temos sido colocados.

Esses factos constituem evidencia bastante do ambiente de impunidade garantido a violadores pelas autoridades políticas e administrativas do Estado de Angola, parceira ACP da UE até agora nunca penalizada por essa prática e nem sequer questionada de forma regulamentar e firme pela parte europeia dessa parceria ACP-UE.

Tendo em consideração esses elementos e aspectos, dada a impossibilidade de participar pessoalmente (1) no encontro para auscultação da sociedade civil, abordo-os aqui de modo muito resumido e por isso de forma muito directa.

Referências:

1 - A norma ACP-UE em vigor
Os acordos de Cotonou (conforme Lomé II) estabelecem como essenciais às parcerias ACP-UE o respeito pelos direitos humanos, a concretização do estado de direito e da democracia.

1.1 - O dialogo político entre a Delegação da Comissão Europeia e a parte ACP é nesse acordo definido como obrigatório e a via e forma para se tratarem dos direitos humanos, da concretização do Estado de direito e da democracia.
Que dialogo tem tido ou não tem tido lugar?!

1.2- Os casos e as praticas concretas constatadas e avaliadas à luz das normas constitucionais angolanas e das normas ACP-UE têm sido denunciadas em Angola, junto da Comunidade Internacional e, especialmente, junto de instituições da União Europeia sem terem merecido até agora as reacções institucionais que o respeito pelas normas exige.

As violações dos direitos humanos e o acesso à justiça das vitimas dessas violações foram alguma vez colocadas na agenda do dialogo político com o Governo?!

Portanto, ano após ano, temos verificado o silêncio cúmplice (por omissão) das instituições da UE-CE com os agentes dessas práticas de violação dos Direitos Humanos. As instituições da UE e da CE não podem alegar serem-lhes desconhecidas.

Sem ser exaustivo refiro aqui que:

1.2.1- Uma carta aberta (2) contestando essa cumplicidade por omissão da UE foi endereçada à Presidência Portuguesa da UE por várias organizações da sociedade civil angolana sem que, no entanto, tivéssemos tido sequer uma resposta séria que seria o mínimo a que se deviam obrigar aqueles a quem essa nossa carta foi endereçada.

1.2.2- Também, recentemente, em carta aberta, apelamos aos Euro Deputados para não reconduzirem o Sr. Durão Barroso à Presidência da Comissão Europeia por no seu mandato anterior a CE ter sido conduzida de forma cúmplice por omissão com os violadores dos direitos humanos em Angola(3).

1.2.3- Pessoal das Embaixadas em Angola de Estados membros da UE (Holanda, Inglaterra e Alemanha) visitaram e ouviram vitimas das violações que documentamos e reportamos. Tive um encontro, numa sala da Embaixada Alemã, com representantes dos Estados Membros da UE e da Delegação da Comissão Europeia sobre violações que documentamos e divulgamos.

1.2.4- Pessoalmente, nos últimos anos, fui recebido em Bruxelas por entidades do Parlamento Europeu, do Concelho Europeu e da Comissão Europeia a quem expus essas violações e a situação das vitimas.

1.2.5- As Euro Deputadas Ana Gomes e Assunção Esteves, agindo para a garantia do respeito pelos direitos humanos em Angola, realizaram acções no Parlamento Europeu sobre essa matéria e, inclusive, a Dra Assunção Esteves inquiriu o Desk Ofice Para Angola da CE sobre essa matéria numa sessão do Sub Comité para os DH do Parlamaento Europeu. Os efeitos dessas acções são desconhecidos por nós, seguramente se não são nulos não são relevantes.

1.3- No nosso caso, o de activistas da SOS Habitat, consideramos que temos exercido o papel adequado à situação prevalecente enquanto actores não estatais, cuja vocação e competência é a de pacifistas Defensores dos Direitos Humanos. Só recorremos ao uso de métodos e meios legais e, inclusive, de conformidade com o conceito europeu de defensor dos direitos humanos.

Não alteraremos o nosso papel, excepto para tornarmos a nossa performance mais apurada, enquanto a conjuntura não for caracterizada pela garantia a todas e todos dos direitos humanos, conforme à Lei Constitucional de Angola e conforme às convenções e pactos internacionais ratificados por Angola.

1.3.1- Pensando no futuro papel dos actores não estatais, em Angola e junto da Comunidade Internacional, não será demais referir aqui (e com algum desenvolvimento da narrativa desse acto), uma acção ilustrativa do nosso papel na luta pela garantia do respeito pelos DH em Angola realizada no Parlamento Europeu por um actor não estatal angolano. Considero que o nosso papel enquanto actores não estatais não se reduz à acção só em Angola. O nosso papel tem sido e vai continuar a ser exercido também no plano internacional.

Na celebração pelo Parlamento Europeu do 60º aniversário da Declaração dos Direitos do Homem, denunciei a cumplicidade da CE (por omissão) com os violadores dos direitos humanos em Angola. Fiz um intervenção oral e expus um cartaz com que me vesti contestando essa cumplicidade. Nesse momento não se registou nenhuma reacção de defesa daqueles a quem assim acusei directamente. Nesse momento ninguém defendeu a UE e a CE dessa acusação apontando o seu silêncio cúmplice face às denuncias de violações dos direitos humanos e, até aos dias que correm, ninguém tentou rechaçar essa acusação.

Esse foi um dos momentos mais confragedores que vivi enquanto defensor dos direitos humanos por ter tido lugar numa casa parlamentar (Parlamento Europeu) que, tendo-se em consideração as suas normas para os DH, é pressuposto ser uma das instituições que no mundo mais promove e defende esses direitos.

Senti-me ignorado, considerado como um nada, que exprimiu nada, apesar de ter protagonizado uma acusação tão grave, estando bem identificado e passível duma acção judicial se a acusação que fiz não corresponde-se à realidade dos factos.

Quem dirigia o acto não exprimiu a mais pequena perturbação simplesmente continuou o festejo. A minha intervenção foi documentada por jornalistas presentes, um jornal português, o DN, dedicou-lhe uma página, foi só esse o tratamento concedido a essa acção. Um "acto inconveniente" que, até agora, só muito levemente chamuscou essa celebração e honoravel instituição .

É pertinente que se retenha que estive lá como convidado enquanto Defensor dos Direitos Humanos e que estava a participar numa celebração dedicada aos defensores dos direitos humanos. No entanto, nessa ocasião em que mais uma vez ignorando riscos assumi esse meu papel activista (um actor não estatal), mais do que em Angola quando opero nos terrenos das violações, senti-me tratado como um não cidadão, uma voz ignorada.

Alguém da organização do evento veio dizer-me para retirar o cartaz que exibia o que imediatamente recusei. Foi a única reacção à minha denuncia. Naquele ambiente não ousaram a coerção mas, no entanto, dessa forma e sem qualquer pudor, tentaram silenciar-me pela persuasão que é sempre uma forma pérfida de repressão pela indução. Porque é muito significativo, retenha-se que nesse dia a temática da celebração era a liberdade de expressão.

Objectivamente, fui tido e tratado como "o cão que ladra à caravana que passa" e que é ignorado. Essa é a metáfora adequada aplicável a esse acto. Fui colocado perante uma manifestação clara de desprezo não só por mim mas acima de tudo, indirectamente, por aqueles a quem com esse acto visei defender servindo-os com uma acção pela garantia de respeito por direitos que afinal só são aqueles que a UE instituiu e postula e cuja defesa eu supunha ser sua obrigação incondicional. Será mesmo?!

Mas não me senti envergonhado por esse desprezo. Ao contrário, vi foi a vergonha no rosto da maioria presente na sala do Parlamento Europeu quando, depois desse acto, em vários momentos, olhei essas pessoas nos olhos e os vi baixar o olhar com vergonha por não serem capazes de serem solidários com uma denuncia fundamentada e justa quando todos ali celebravam os 60 anos do documento que pela primeira vez na história da humanidade consagrou os direitos humanos. Esse acto internacional, dum actor não estatal também internacional, já só porque africano e europeu, colocou em evidência o cinismo que vem gangrenando a UE no que respeita à defesa dos direitos humanos.

Considero que fui tratado assim porque sou pequeno demais, apenas mais um activista, um simples defensor dos direitos humanos, um insignificante actor não estatal sem força sequer para beliscar o verniz de cinismo da campeã mundial da defesa dos DH, a UE.

No entanto vigora também na UE e ou para a UE e suas parcerias uma norma para os (actores não estatais) Defensores dos Direitos Humanos que visa garantir-nos protecção e, acima de tudo, a dignidade inerente aos valores humanistas- "comuns" à UE - que defendemos e, também, o respeito que nos é devido pela capacidade de, pacificamente, nos expormos a elevados riscos para a concretização desses valores.

É obvio que, para além do discurso de campeã mundial dos direitos humanos que a UE e seus Estados Membros protagonizam, a pratica do silencio cúmplice, a sua omissão, tem como razão de ser evitar a crispação das suas relações com os detentores do poder em Angola para não colocarem em risco interesses económicos que, isso sim, efectivamente, têm sido essenciais nas relações da CE e dos Estados Membros presentes em Angola com os actuais detentores do poder no nosso país.

Conclusão/Contestação e questão essencial

Portanto, em Angola, ao invés da garantia do respeito pelos direitos humanos ser a obrigação incondicional do parceiro ACP da UE, (que é o que determina a norma aplicável às parcerias ACP-UE), tem sido a garantia da impunidade de violadores em troca não dita mas efectiva pela realização de interesses económicos o que na pratica tem sido essencial à parceria ACP UE com Angola.

-Face as evidencias e comportamentos institucionais que aqui coloco aos Exmos Srs. Euro Deputados, como, com que fins e em resposta à vossa sugestão, pretendem que pensemos em conjunto sobre o papel dos actores não estatais angolanos? Que outro papel, complementar, diferente e ou mais eficiente, do que o de protectores das vitimas de violações e o que a denuncia dessas violações nos impõe podemos desenvolver?

(Entretanto, assumido uma atitude pro, coloco-vos a seguinte proposição, em função do ponto 1 da agenda constante no convite que me foi endereçado e que visa tratar "o papel dos atores não estatais em Angola na implementação do Acordo de Cotonou."

Retenham por favor que nas condições que prevalecem não temos tido tempo e calma para desenvolver propostas muito elaboradas que possam subsidiar a definição do papel dos actores não estatais. É assim porque em vez de estarmos num momento para as pensar, temos é estado face a uma situação que nos obriga a contestar a impunidade reinante e a cumplicidade por omissão da CE com essa impunidade que impera em Angola. Por essa razão, agora apenas me permito expor sugestões mínimas que julgo poderem subsidiar o fim dessa impunidade, que passa também obrigatória e essencialmente pela alteração da atitude da Comunidade Internacional em geral e em particular da CE, face ao império daqueles que nos vêm impondo essa impunidade. Em consequência sugiro o seguinte:

1- Realização por entidades da UE e da CE (com competência fiscal) dum seguimento rigoroso da actuação da Delegação da CE em matéria de direitos humanos feito em parceria com os angolanos defensores, efectivos, dos direitos humanos . Seguimento que sugiro seja efectuado por via não só de (a) encontros regulares e sistemáticos de parlamentares europeus com os Defensores dos Direitos Humanos mas também pelo (b) estabelecimento dum gabinete adstrito administrativamente adstrito à Delegação da CE, (c) politicamente independente dela, (d) integrado de forma rotativa por activistas angolanos e europeus, (e) vocacionado para o registo e divulgação de violações dos DH e o acompanhamento do tratamento judicial que é concedido às vitimas dessas violações.

2- Independentemente de, politicamente, serem membros de organizações actualmente tidas e tratadas como a boa sociedade civil que nalguma forma ou e medida cooperem com o Governo ou de serem membros de organizações actualmente tidas e tratadas como a má sociedade civil por serem contrárias às praticas irregulares dos detentores do poder político em Angola, portanto com isenção política, a CE e sua Delegação em Angola devem em meu entender:

a) estabelecer a pratica da participação dos actores não estatais em geral e particularmente dos Defensores dos DH na formulação e na realização do dialogo político com o Governo de Angola no que diga respeito tanto à promoção como à defesa desses direitos da plena cidadania, dum habitat harmonioso, do Estado de direito e da democracia. Afinal somos parte da sociedade a que se destinam as acções da parceria ACP-UE. Pergunto: efectivamente temos o direito a essa participação ou não?

b) estabelecer uma pratica de concertação entre a delegação da CE e as organizações da Sociedade Civil concretizada pela participação das mais diversas tendências políticas e culturais da sociedade civil angolana desde a concepção de quaisquer agendas que lhes digam respeito ou que lhes interessem até à sua implementação, ao invés da continuação, já crónica, da participação reduzida dum circulo restrito de "pensadores" e do recurso às consultorias dos poucos "experts em sociedade civil angolana", quase sempre os mesmos, que se vem registando ao longo dos anos. Verifiquem administrativamente, por favor.

c) estabelecer um colégio de Organizações da Sociedade Civil, o mais abrangente e diversificado possível mas sem funções de representação de ninguém e só para o acompanhamento da parceria ACP-UE com Angola em todos os domínios e conforme às vocações e interesses de cada associação que queira participar nesse colégio.

Condição essencial: a realização pelas organizações da sociedade civil, em plena liberdade, das propostas acima referidas, para a sua mais plena realização, exige que não sejam iniciadas e ou que cessem quaisquer agendas apoiadas pela Delegação da CE visando o estabelecimento de quaisquer "representações da sociedade civil".

Para um papel reforçado e mais eficiente dos actores não estatais angolanos acima de tudo Exijo Dignidade. A condição essencial à essência do nosso papel em prol duma sociedade em que respeito pelos direitos humanos sejam garantidos a todas e todos, gerida por um Estado de Direito Democrático.

Excelentíssimos Euro Deputados, por todos nós, por favor, Exijam Dignidade.

Queiram aceitar a minhas saudações, as mais cordiais

Luiz Araújo
Coordenador da Direcção
SOS Habitat - Acção Solidária
+244 912 507 343

Até 18.01.10 - mobile phone 0061 448 391 478

- (1) http://www.correiomanha.pt/noticia.aspx?contentid=9711827E-E0D6-4CEF-8A60-CFE87AF85EE9&channelid=00000091-0000-0000-0000-000000000091

- (2) http://oraculodopovo.blogspot.com/2007/11/protesto-nota-de-entrega-ao-exmo.html

- (3) http://www.correiodopatriota.com/index.php?option=com_content&task=view&id=6415&Itemid=236